Árvore da Vida Céltica, artista desconhecido
O Freixo - ou a Árvore sagrada de Yggdrasil
Nas tradições místico-religiosas escandinavas, o freixo Yggdrasil é, por excelência, um símbolo da imortalidade e da ligação entre os três mundos, tanto no Macro como no Microcosmo. Os deuses construtores e guias da humanidade reúnem-se aos pés de Yggdrasil, receptando as gotas de orvalho que brotam do seu topo (o topo do mundo) e promanam a alegria, a fecundidade e a justiça. A sua fronde está eternamente verdescente pois ele retira a sua inesgotável energia da fonte Urd, de cujas águas surgiu o universo. Esta Árvore secará e consumir-se-á apenas no dia em que for travada a última Batalha entre o Bem e o Mal e o primeiro prevalecer, fazendo que a vida, o tempo e o espaço se recolham (no seu periódico acolher) no Seio do Absoluto.
O freixo, de cuja madeira se faziam as hastes das lanças, representa também a própria lança erecta, que rasga o solo, e é veículo de contacto entre o contínuo fluir divino e a recepção terreal 13.
Esta Árvore Sagrada da mitologia dos povos do Norte é, porém, idêntica a outras, de diferentes tradições, no seu profundo e sugestivo simbolismo: a “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal” - lado-a-lado com a “Árvore da Vida” - do Jardim do Éden, na tradição judaico-cristã 14; a Árvore Boddhi (ou Árvore Bo, ou a “Ashvatha”) sob a qual Gautama, o Buda, alcançou a Iluminação; a “Pippala”, Árvore do Conhecimento dos Parsis (idêntica à arvore Bo), cujo fruto haoma é, também, o fruto proibido; a Arasa Maram, a Árvore sagrada do Conhecimento, no hinduísmo; as muitas “Árvores da Vida”, como é o caso da cabalística, emblema sacratíssimo do esoterismo Judeu; a “Asherah” assíria; a “Ished” egípcia; o “Palâza (Butea frondosa), de folha tripla, que era um símbolo da essência tripla do Universo: Espírito, Alma e Matéria ou Corpo; a Kian-Mu chinesa, idêntica à Yggdrasil; o Himorogi japonês, etc 15. Tal como no jardim do Éden, temos representadas no homem ambas as Árvores: a da Vida e a da Ciência do Bem e do Mal. A primeira, invertida, no nosso sistema respiratório (brônquios e pulmões) e, a “Norte” 14, a segunda, nas ramificações do sistema cerebral.
Assinalamos um sugestivo “pormenor”: de numerosas variedades de Freixos é exsudada uma substância alimentícia, e com propriedades medicinais e purgativas, denominada maná (do hebreu, manã). Não podemos furtar-nos à memória do episódio mítico do “maná caído no deserto e salvador do povo faminto de Israel, rumo à Terra Prometida”. Nele vemos a alusão ao alimento do Céu superior ou do Manas Superior. Esse Maná é, de facto, libertador… E estamos em crer que, tenha sido tão somente um fluido espiritual ou tenha sido a substância nectarina que promana de muitos dos Freixos, o seu nome, pelos seus místicos efeitos, deve-se à conotação com o Manas sânscrito (a Razão Intelectual, a Mente - justamente, o que confere ao Homem a sua condição de humanidade).
Na Índia, o freixo cresce unicamente nos Himalaias mas apenas acima dos 1300 metros. Dele (Fraxinus Excelsior) se extrai o maná que, fermentado, produz uma bebida usada pelos monges e que, justamente, é identificado ao soma por autoctones hindus (e, pelos iranianos, ao haoma) 16. Era o mesmo Freixo 17 que proporcionava, na Grécia, um licor ambrosino (o kikeon) utilizado nos “Mistérios de Elêusis” 18.
É bastante significativo que o Freixo em inglês tenha o nome de Ash. Na verdade, ash é a raiz de Ashvatha, a Árvore do Conhecimento, por vezes também chamada Bo ou Bodhi, sob a qual Buda dissipou a ilusão e atingiu a Luz. Inquestionavelmente um e outro termos têm relação directa. Ashvatha é descrita com as raízes em cima e os ramos estendendo-se para baixo - a copa tipificando o mundo exterior dos sentidos (i.e., o universo visível e sensível) e a Roda infindável dos Renascimentos (a corrente de Samsâra), e as raízes, nas regiões celestes, simbolizando o Ser Supremo, a Causa Primeira, a Raiz do Cosmo 19. Nas Escrituras hindus é tida como “símbolo da vida e da ilusão das suas alegrias e prazeres”; e cada homem tem por missão penetrar fundo dentro dela, passar além dos seus ramos e, atingindo o topo das suas raízes, visionar e conquistar a Luz da Realidade. Curiosamente, o termo Ash, em hebraico, significa Fogo, tanto o fogo espiritual quanto o físico (o “Ash Metzareph” era um importante tratado cabalista cujo nome tinha por significado “O Fogo Purificador”) 20.
Outras referências, igualmente curiosas, a frutos, proibidos ou reservados para os heróis, encontram-se, nomeadamente, nas múltiplas menções ao poder encerrado na maçã: a maçã que Eva ofereceu a Adão…; os “Pomos de Ouro” do Jardim das Hespérides 21; e, no Zohar, podemos ler o seguinte: … “mercê deste orvalho, se nutrem os Santos Superiores. No mundo vindouro formará o maná dos justos. Esse orvalho cai no Jardim das Maçãs Sagradas….”; também o Mago Merlim, da lenda do Rei Artur, ensinava debaixo de uma macieira na Ilha de Avalon (em celta, chamada o Pomar das Macieiras). Na verdade, é pertinente observar que o coração das maçãs configura “uma flor de 5 pétalas” ou “uma estrela de 5 pontas”, dividindo-se em 5 pequenos alvéolos dentro dos quais se ocultam as sementes. E 5 é o “número do homem”, o número dos graus ou Planos que o Homem domina (no Grande Todo Septenário) - o 5o Princípio é Manas. A maçã, com propriedade, pode ser considerada como o fruto do “Conhecimento do Bem e do Mal”. Por último, destacamos uma significativa alegação da Filosofia Esotérica: Jambu (termo sânscrito) é uma das principais divisões do globo, no sistema purânico, que inclui a antiga Índia como berço da 5a Raça, ou Ariana. Significa “Terra das maçãs rosadas” 22. Num sentido mais vasto, é o nome do nosso Globo, separado dos outros seis que, com ele, conformam a nossa Cadeia Planetária. E esta Tradição, pela longevidade incomparável dos seus registos escritos, é obviamente a raiz de todas as demais tradições de Paraísos terreais, de Berços da Humanidade, de sonhos heróicos de Regresso às Origens, empossados na forma de miríficos “Jardins onde abundam Maçãs de Ouro”…
Não resistimos aqui a fazer um pouco de humor: até a célebre maçã de Newton foi, de facto, a maçã da “iluminação”!!!
Fonte: Biosofia
Nenhum comentário:
Postar um comentário