27.11.09

Lançamento do Livro "Música Brasileira de Ayahuasca"


Este charmoso livro de bolso dá destaque ao tema da música nas religiões ayahuasqueiras do Santo Daime (nas suas vertentes Cefluris e Alto Santo) e da União do Vegetal (UDV). Ainda que maioria dos estudos sobre as religiões ayahuasqueiras reconheça a centralidade da música nestes rituais, a música, em geral, tem figurado ao lado de muitos outros aspectos tratados, sem ganhar um status de análise próprio, como ocorre aqui. Rica manifestação cultural, a música de ayahuasca revela uma multiplicidade de conexões com a religiosidade brasileira e expressões musicais do nordeste e da Amazônia, e tem sido um dos principais elementos destacados no recente processo de pedido de reconhecimento da ayahuasca como patrimônio cultural imaterial da nação brasileira. O livro explora o papel preponderante que a música ocupa no cotidiano dessas religiões, na produção dos significados religiosos e na construção do corpo e da subjetividade dos adeptos. A partir de uma descriçãodo fazer musical de cada grupo e de uma comparação entre ambos, os autores procuram entender o ethos destes grupos, assim como mais gerais destes movimentos religiosos. A obra representa uma importante contribuição em uma área de estudos ainda muito pouco explorada no Brasil: o estudo da música nos contextos rituais e religiosos.

23.11.09

Entrevista da Marina Silva para a revista TPM

Leia aqui.

O Efeito Marina

...A questão ambiental forçou uma inflexão política e nas duas candidaturas. Não vejo isso como negativo. Acho que é positivo. O frei Leonardo Boff me falou esses dias que não tem nada mais forte do que uma idéia cujo tempo chegou. Acho que é o momento em que as pessoas percebem isso. Alguns ainda muito refratários, muito receosos de se aproximar desse tema, como se ele fosse algo que pudesse fazer no fim perder popularidade. Mas esta é a nova demanda social e política. Eu venho dizendo há muitos anos que essa é a utopia desse século. Nós que nos mobilizamos pela democracia - tanto eu, quanto Serra, quanto Dilma -, eles mais pelo preço que pagaram por isso - quando chegou o tempo certo, nós conseguimos. Agora, a hora da questão ambiental chegou. O fundamental de tudo isso é que a sociedade brasileira está nos dando a imensa oportunidade de fazermos as mudanças que os próximos 20, 30 anos exigem de nós. Às vezes, temos que tomar decisões e enfrentar desafios sem o relativo acordo social que nos dê sustentabilidade política para fazê-lo. Nesse momento, há uma grande parte da sociedade que está acenando com a força política para que façamos as mudanças. E não temos o direito de nivelar o Brasil por baixo no debate com os que querem continuar com o mesmo paradigma do século XX e até mesmo do final do século XIX. As pessoas estão nos dando a chance de transitar e, numa campanha política, obviamente que esse acordo social é mais palpável porque a sociedade vai se mobilizar. Leia mais aqui.

17.11.09

Butterfly of Amazonia

Brazil had no clear goal for going to Copenhagen. Then Marina Silva began to scream in the media that Brazil's strategy for development needed to adopt clear targets for reducing emissions. So while China and the US were still delaying, she has opened the way for Brazil to lead. Already, the Lula government in Brasilia and the Serra people in Sao Paulo State are proposing targets for reducing emissions. Scientist know that a single flap of the wing of a butterfly can bring forth a change in the weather on the other side of the world. Now we can see the true potential for the butterfly of Amazonia to change the world.
Kirstin Otten Langland

Pablo Amaringo 1943 - 2009



No dia 16 de novembro de 2009, um dos maiores expoentes da arte visionária, o peruano Pablo Amaringo, passou para a outra dimensão. Pablo nasceu em 1943 em Puerto Libertad, na Amazônia peruana. Foi com 10 anos que pela primeira vez tomou a ayahuasca. Um grave problema de saúde levou Pablo a se tratar com a ayahuasca, se tornando então um conhecido curandeiro. Em 1977, Pablo abandonou sua vocação de xamã e se tornou artista e instrutor da sua Escola Usko-Ayar, aonde ele dava aulas sem cobrar. Pablo Amaringo pintou e descreveu numerosas visões da ayahuasca, aonde algumas aparecem em seu livro Ayahuasca Visions: The Religious Iconography of a Peruvian Shaman. Até a sua morte, ele continuava pintando e documentando a flora e a fauna do Peru.

14.11.09

A Arte Visionária


Pablo Amaringo 1943 - 2009

Postado por Antropogenia

A arte visionária, assim como qualquer forma de arte, é uma tentativa de conhecimento da realidade. Como Lévi-Strauss diz, todo pensamento se baseia no desejo de compreender o real, e o pensamento nativo (no caso Shipibo-Conibo) não se diferencia do contemporâneo. Se tratando de arte, ela é uma maneira que o homem encontrou de transformar a Natureza em cultura, explorando a relação entre significado (relacionado a estética pura) e significante (relacionado a estética transcendental).

No caso da arte visionária, sendo ela uma tentativa de presentificação do sagrado, esta relação entre significado e significante é espelhada na relação entre o mundo visível e o invisível, vivos e mortos, inconsciente e consciente; presente também em toda arte “primitiva”. É através desta relação que a arte visionária torna compreensível o desconhecido, é uma narrativa posterior ao ritual.

Como toquei no assunto da arte “primitiva”, e partindo de Sally Price, muitas das obras que observamos de arte visionária (como as de Pablo Amaringo) não poderiam ser vistas como “arte primitiva”, pois se conhece o autor e estas obras podem ser reproduzidas. Na arte “primitiva” a opinião do autor e seu nome não são conhecidos.

Não poderia esquecer de falar que a arte visionária parte da experiência do sublime provocada pela contemplação, no caso, a experiência estética provocada pelos enteógenos não é originada de uma percepção da forma que atribui um juízo à ela, e sim uma experiência de contemplação pura da forma da realidade.

Ao produzir estas obras, o artista oferece um modelo reduzido da realidade, tornando-a compreensível e transmitindo prazer nesta contemplação. Também devemos observar que as obras de arte visionária que possuem uma gama de detalhes enquadram-se como uma percepção imaginativa, que é quando há diferentes elementos observados através da percepção oferecendo um complexo modelo de uma realidade que esta no campo do invisível. O contrário, que se enquadra como imaginação perceptiva, é quando a obra não oferece muitos detalhes, mas pelos poucos que ela tem, nos possibilita imaginar um objeto de maior complexidade.

Estas são umas características gerais da arte visionária, mas toda e qualquer obra esta diretamente dependente das influências culturais que o artista tem. Ela faz uma representação do universo próprio que o artista esta inserindo, presentificando os elementos do seu inconsciente. Quando observamos uma obra que presentifica uma divindade egípcia ou uma anaconda, não devemos vê-los como seres que de fato existem no campo astral, mas sim como arquétipos determinados no tempo e no espaço culturalmente compreendidos

5.11.09

Quem Apoia Marina

"Qual é a pessoa com carisma, com base popular, ligada aos fundamentos do PT e que se fez ícone da causa ecológica? É uma mulher, seringueira, da Igreja da libertação, amazônica. Ela também é uma Silva como Lula. Seu nome é Marina Osmarina Silva. Marina representa outro paradigma. Não mais a má utopia do progresso sem fim, mas a boa utopia da harmonia planetária. A nossa visão não é restrita a 2010-2014. Estamos mirando a grande crise de 2035 e buscando evitá-la enquanto é tempo ou, na pior das hipóteses, buscar alternativas ao seu enfrentamento. É por isso, por amor a nossos filhos, netos e netas, temos que dar força à candidatura da Marina. E que Paulo Freire nos ajude a fazer dessa campanha eleitoral uma campanha de educação popular de massas" Leonardo Boff

Gilberto Gil, Caetano veloso, Maria Betânia, Al Gore, Frei Betto, Heloísa Helena, Kaká Werá Jacupe, Crstóvam Buarque entre muitos outros também já declararam publicamente seu apoio a Marina Silva Presidente.
Alex Gray

3.11.09

NÓS QUE AMAMOS AS PERERECAS

Taquiprati – Diário do Amazonas 

José R. Bessa Freire – 03/10/2009

Escrevo de Rio Branco. Vim ministrar a conferência de abertura do seminário “A Historiografia Amazônica em Debate” organizado pelo Grupo de Pesquisa Gaia da Universidade Federal do Acre (UFAC). Aqui tenho uma penca de ex-alunos. Alguns são índios: Isaac Ashaninka, Norberto Kaxinawá, Adaizo Yawanawá. Outros não. É o caso do atual governador do Acre Binho Marques e da senadora Marina Silva. Dei aula para ambos, em 1986, na Pós-graduação de História Social e Econômica da Amazônia.

- “Qual dos dois foi melhor aluno?” – me pergunta o entrevistador Alan Rick, num programa local da TV Gazeta.  Demoro a responder. Estou desconcentrado. É que não consigo desviar os olhos do topete dele. Os fios de seus cabelos penteados para trás guardam distância simétrica um do outro e estão cimentados por um irremovível laquê, que nenhum tufão consegue despentear. Mistura de Elvis Presley com Silvio Santos.  Enquanto penso que essa tribo da televisão é bizarra, a entrevista prossegue.      

- Você vota na Marina para presidente da República? – ele quer saber. 

Lembrei, então, que um amigo antropólogo de São Paulo me fez a mesma pergunta, só que conjugando um novo verbo: - “Você ‘marinou’?”. Na realidade, ‘marinei’. Por isso, toma cuidado com o que eu escrevo, leitor (a). Esse que vos fala não é um locutor ‘imparcial’, mas alguém que vestiu a camisa ‘Marina presidente’. Por quê? Ora, por causa das pererecas.

Motel de perereca

Lá, no Rio, em 1965, os biólogos localizaram aPhysalaemus soaresi - uma perereca de 2 cm que não existe em nenhum outro lugar do planeta, só no brejo da reserva da Floresta Nacional, próximo à rodovia Presidente Dutra. Acontece que máquinas gigantescas, tratores, caminhões e escavadeiras invadiram o brejo para construir o Arco Metropolitano, uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), orçada em 1 bilhão de reais.

O Arco, que vai permitir chegar ao Porto de Itaguaí através de 80 km de asfalto, ameaça extinguir essa espécie rara da família Leptodactylidae, uma família humilde, mas honrada, que está para o mundo dos batráquios, assim como a família Silva está para os brasileiros. Os operários da obra deram-lhe o nome de ‘Norminha’, personagem fogosa da Dira Paes na telenovela “Caminho das Índias”. Norminha Leptodactylidae.

- “Se não parar a obra, a família inteirinha desaparece do mapa” - alertaram os administradores da floresta. Mas os engenheiros da Secretaria Estadual de Obras retrucaram: - “Então, leva a perereca pra outro lugar, porque o PAC não pode parar”. O vice-governador do Rio, Luiz Pezão, ironizou com uma provocação boçalóide: “Se é para não atrapalhar o namoro de perereca, então vamos fechar toda a via Dutra”.

Foi quando entrou em campo Carlos Minc, o cupido das pererecas, que discordou. Na qualidade de ministro do Meio Ambiente, propôs a construção de uma espécie de motel, onde elas possam se reproduzir, o que desagradou a gregos e baianos. Uns acham que a proposta do Minc – erguer um muro com placas de metal separando o brejo do canteiro de obras – não é bem um motel, mas um ‘pererecaduto’, nocivo aos batráquios. Outros crêem que não vale a pena encarecer o custo da obra por motivo que consideram fútil.

A situação se complicou ainda mais, quando o biólogo Sérgio Potsch, responsável pelo laboratório de répteis e anfíbios da UFRJ e especialista em girinos, informou que o brejo abriga uma espécie rara de peixe – o Notholebias Minimus – que também não existe em nenhum outro lugar do mundo. O certo é que a obra do Arco Metropolitano foi paralisada, enquanto os técnicos discutem o que fazer.

O cu da formiga

Eis o que eu queria dizer: se não houvesse a possível candidatura de Marina da Silva, o discurso dominante seria o de Lula da Silva e ‘Norminha’ já estaria mortinha da silva. Que discurso é esse? Meses atrás, Lula debochou de uma perereca gaúcha, responsabilizando- a pelo atraso em mais de meio ano na construção de um viaduto da BR-101. Fez discurso similar em relação ao bagre, que pode ser prejudicado pela hidrelétrica do Rio Madeira. Agora, o papo mudou.

Bastou a presença da Marina no cenário político nacional para obrigar os demais candidatos e os poderes públicos a incorporarem as questões de sustentabilidade ambiental em seus discursos. Marina está convicta de que as necessidades da atual geração podem ser satisfeitas sem sacrificar as gerações futuras, sem saqueio ou predação. Isso é sustentabilidade.  

É muita burrice eliminar uma espécie animal ou vegetal em troca de uma estrada ou de uma hidrelétrica, porque existem técnicas e saberes diversificados para construir obras, mas até hoje não foi inventada uma forma de recriar uma espécie que desapareceu. O grande problema ambiental é esse: a ignorância e a desinformação e não o desmatamento, a queimada, as estradas, que já são frutos da boçalidade.

Tem gente que acha um absurdo que uma “pererequinha de merda”, de dois cm, atrase uma obra de 1 bilhão de reais. Mas o poeta Manoel de Barros tem razão quando diz que “o cu de uma formiga é muito mais importante do que uma Usina Nuclear”, e que não precisou ler os teólogos e os sábios para chegar a Deus. “As formigas me mostraram Ele”, escreveu o poeta, doutor em formigologia. Para a vida verdadeira, o cu da formiga, a cabeça do bagre e a perereca são tão imprescindíveis quanto uma estrada.

Não importa o que Marina pensa sobre o aborto, nem suas convicções religiosas sobre a criação do mundo. O que importa é que, por causa dela, dona Dilma, seu Serra, seu Ciro e qualquer outro candidato vão ser obrigados a discutir seriamente a questão ambiental e a sustentabilidade. Marina sabe que estradas e hidrelétricas são necessárias, mas podem ser construídas sem destruir o planeta. Acena poeticamente para a utopia e mostra que o valor das coisas depende da capacidade que temos de nos encantar por elas.

Marina me representa, hoje, tão visceralmente quanto o Lula em eleições passadas. Simboliza a inteligência, a sensibilidade, o compromisso com os indefesos, os fracos, os pequenos, o planeta, amama pacha.. Por isso, marinei. Ela terá militantes entusiasmados ao seu lado, porque é capaz de empolgá-los, coisa que duvido dona Dilma fará. De-u-du-vê-i- vi-de-o-dó macaxeira mocotó! Foi mais ou menos isso que disse ao jornalista Altino Machado, caminhando ontem com ele pelas ruas de Rio Branco. Nós todos, que amamos as pererecas e a vida, marinamos.