25.9.08

O Pomar

Lucas Cranach
Uma história do Talmud tem como objetivo alertar para o perigo e a sutileza de estudarmos a Cabala antes de atingirmos uma certa maturidade, conta sobre quatro sábios que foram passear em um “PARDES”. A palavra PARDES tem aqui um duplo sentido: sua tradução literal do hebraico é POMAR, mas ela também é uma sigla onde cada letra representa uma forma de interpretação que serve tanto para desvendar os segredos das Escrituras quanto do próprio mundo. “PARDES” é formado das palavras: (P) Pshat = literal. (R)Remez = alusivo/analítico (causa <-> consequência), (D)Deresh = simbólico. (S) Sod = Secreto. Durante seu passeio, os quatro sábios entram em contato com as quatro dimensões de apreensão da realidade de troca entre o universo exterior e o interior. O impacto das revelações contidas no POMAR, através da interação total das quatro dimensões, produz diferentes conseqüências nos sábios: um deles enlouquece, outro morre, o terceiro torna-se um herege e somente o quarto, Rabi Akiva, consegue passear pelo POMAR e sair ileso. Sair louco do POMAR significa não mais poder distinguir fora dele os limites entre a realidade literal, alusiva, simbólica e a intransmissível, de tal maneira que o indivíduo não pode mais ser funcional. Sair um herege significa associar erroneamente elementos destas distintas dimensões. Morrer significa a dissolução da individualidade, e sair ileso representa a possibilidade de percorrer todo um caminho interno pelos quatro mundos, chegando ao mundo sem representação (o quinto), que harmoniza os demais e permite uma verdadeira troca entre indivíduo e universo. Rabi Akiva é o único que retorna ao mundo funcional com a possibilidade de, utilizando sua vivência (“insight”), atuar de forma concreta, perpetuando assim o ciclo de troca. Sair do POMAR representa a possibilidade de não ficar doente e continuar fisicamente funcional com a realidade, mesmo a mais vulgar. Significa existir saudavelmente, sem permitir que no processo de vida e troca nosso corpo, intelecto, psique e espírito adoeçam. Poder passear no POMAR significa SER no sentido mais completo: “receber” do fluxo original, deixá-lo percorrer as diferentes configurações do indivíduo e permitir sua passagem ao mundo das ações e da História. É a partir de nossos passeios ilesos pelo POMAR que o mundo colhe frutos. Cada indivíduo tem seu próprio cultivo e sua própria capacidade de trazer ou não da colheita para o mundo da troca. É este esforço e esta variedade de capacidades de resgatar do POMAR que permitem existir no mundo vulgar o “Shulchan Aruch” - a mesa posta!
Shoo

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá!
Muito interessante a estória dos ravs. Estava procurando o significado do sobrenome e achei o seu blog!
Parabéns pelo Blog!
D'US o abençoe!
Abraços,
Sara Pomar :)