Por Rabino Manis Friedman
Na primeira sexta-feira, sexto dia da Criação, quando o mundo era inocente e puro, Adão e Eva estavam vivendo no Jardim do Éden, recentemente criados pelas mãos de D'us.
Receberam a tarefa de cultivar e proteger o Jardim. D'us lhes ordenou: "Não comam da árvore do conhecimento, pois no dia em que comerem morrerão." Tiveram uma opção: abster-se de comer o fruto da árvore e viver para sempre no Jardim; ou comê-lo e serem banidos para o mundo da mortalidade. Após três horas de sua criação, comeram da árvore. D'us permitiu que Adão e Eva permanecessem enquanto durasse o Shabat, mas quando este terminou, foram expulsos do Éden para sempre.
É uma história intrigante, e desperta várias questões. D'us criou dois seres humanos perfeitos, sem nenhuma malícia ou "bagagem." Ele, o Todo Poderoso, ordenou-lhes explicitamente para não comer o fruto de uma determinada árvore. Mesmo assim, estas duas almas inocentes, que jamais haviam sido expostas a influências corruptoras, desobedeceram-no em poucas horas. Houve alguma falha em sua criação? Ou, inimaginável, havia algo errado com D'us? O diretor de uma escola cujas instruções seguem ignoradas é um líder ineficiente. Se D'us falasse a você e dissesse: "Não coma desta árvore," após alguma horas, você iria em frente e comeria?
Era o plano de D'us que Adão e Eva vivessem para sempre no Jardim, em um estado Divino de pureza, inocência e imortalidade? Ou, Seu plano era criar um mundo no qual existisse o mal e, ou obedecemos Suas leis escrupulosamente e vamos para o céu, ou as desobedecemos e vamos para o inferno?
Nos ensinamentos chassídicos, esta pergunta é feita em tons mais suaves: Por que D'us desejaria instilar em nós um pedacinho de Si Mesmo, a alma Divina, e expô-la a um mundo de feiúra e trevas?
Como a Cabalá explicará, a descida proporciona uma subida ainda maior. D'us criou o universo por um desejo de "uma morada nos mundos inferiores." Este é o significado mais profundo de "algo a partir do nada," como a Torá descreve a criação. "Nada" significa que nada há sobre um universo físico que justifique sua própria existência - somente o desejo de D'us de fazer de nosso mundo um lar, de tornar este mundo de carne e pedra hospitaleiro a Ele, onde Ele possa ser conhecido e adorado. Eva entendeu a necessidade de D'us de que este mundo inferior, um mundo contaminado pela morte e pelo pecado, fosse elevado e unido a Ele. Ela entendeu que os seres humanos devem deixar o Éden e descer ao mundo inferior, e ali criar um lar para D'us. Ela entendeu que a tarefa de elevar os "seis dias da semana" culminando no Shabat e os "seis milênios" levando à nossa redenção.
E assim ela comeu da árvore, e convenceu Adão a fazer o mesmo. Quando D'us perguntou a Adão: "Tu comeste da árvore?" - não foi uma repreensão ou censura. Ele estava admirando a sabedoria de Adão em ter tomado a decisão correta. Adão, em sua inocência, admitiu que fora a sabedoria de Eva, não a sua. "Ela deu-me o fruto da árvore, e eu comi." Em resposta, D'us disse: "Porque o fizeste, morrerás; comerás o pão pelo suor de teu rosto, e em dor darás à luz." Este não foi um castigo pelo pecado, mas sim uma continuação do plano, com o qual Adão e Eva tinham voluntariamente se comprometido. O mundo agora pode tornar-se confortável para Ele, quando as coisas que O definem - Seus mandamentos - são praticados. Assim fazendo, preparamos o mundo para nossa suprema redenção
Árvore da Vida, Gustave Klimt
Adão e Eva, Gustave Klimt
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