1.4.11

Saber ouvir o outro

      Estamos vendo acontecer uma grande falta de diálogo seja no cenário político, ou nas relações inter-pessoais. Uma falta de saber “ouvir o outro”.
      No mundo moderno, os interesses de lucro sobrepõe as questões de humanidade e ética. Vemos proliferarem as usinas atômicas e plataformas de petróleos por toda parte, mesmo sabendo que parte da humanidade consciente dos seus malefícios, já não suporta mais esses tipos de fontes energéticas. Pessoas, grupos e entidades buscam se colocar num diálogo, muitas vezes um monólogo.
      Casos como os acidentes da usina atômica de  Chernobyl e Fukushima  ou da explosão da plataforma da British Petroleum no Golfo são exemplos de uma política energética fadada ao fracasso. Existe uma tentativa de diálogo para a mudança quanto a essas corporações e governos nessa questão. Podemos ver que no Brasil 20 milhões de votos, em 2010, foram dados para uma plataforma de governo que pregava a sustentabilidade em sua ações. Na Alemanha, as votações regionais foram completamente influenciadas pelo drama de Fukushima, aonde o Partido Verde derrotou a democracia cristã em Baden-Wutteremberg. Isso é a clara noção de que parte do povo dá sua resposta e quer uma mudança de pensamento.
     O problema é que a arrogância, o desprezo ao mundo e o imediatismo imperam. Estamos vendo acontecer o pior dos pecados, que é a indiferença. Ao fecharem-se em função do lucro, governos e corporações desprezam os perigos que possam acontecer a gerações futuras. Aspirações de um mundo mais saudável ecologicamente exige que governo e corporações dêem ouvidos as reivindicações das novas gerações que querem ter um futuro ainda neste planeta.
      Vejo algumas soluções drásticas, mas funcionais. Consumidores passam a ser conscientes em suas ações de consumo quando só adquirem produtos certificados ecologicamente e preterem produtos de países que utilizem energias atômicas. Essas atitudes parecem ser uma resposta radical, como uma guerra dentro do liberalismo econômico atuante, aonde através da nossa conscientização e ações possamos fazer ser ouvidos e libertados.
      Ouvir, demonstra educação e respeito. É uma atitude amorosa. Quem ouve dá a chance a si mesmo de crescer. Por isso acredito que empresas e governos do século XXI terão que se alinhar e ouvir seus consumidores e cidadãos se quiserem atravessar esse século que começou apresentando reais mudanças de paradigmas. Isso vale também no contexto das inter-relações individuais.  Filhos não ouvem os pais, e pais não tem tempo de ouvir os filhos. Desenvolvem o egocentrismo incentivado pelo mundo do liberalismo . Não que não seja reconhecido os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade inspiradores do liberalismo . Na realidade, esses ideais não estão funcionando no mundo moderno. A economia no liberalismo não é fraterna, visa lucro sem pensar no bem comum. A desigualdade de norte ao sul é gritante. E como no livro de Adous Huxley, “Admirável mundo novo ”,  jamais o selvagem, personagem central, poderia sobreviver a códigos pseudo-liberais, sendo fadado a empreitar sua fuga solitário para o mundo natural. Os homens que se recusam a aceitar este desencanto do mundo , é igual a esse selvagem de Huxley. A liberdade só existe fora do mundo moderno, se é que existe mesmo. Vivemos uma pseudo-liberdade, consumimos o que não precisamos, desejamos o que não é necessário e buscamos a vida feliz dos anúncios de margarinas. Só haverá liberdade quando consigamos ouvir a nós mesmos e os outros. Só haverá liberdade quando houver diálogo. Segundo o psicólogo Carl Rogers , “quando se ouve alguém, verdadeiramente, e se apreende o que mais importa a essa pessoa, ouvindo não apenas as palavras, mas a ela mesma, e fazendo-a saber que foram ouvidos  os seus significados pessoais privados, surge um sentimento de gratidão, e a pessoa se sente libertada. E, imersa nesse sentimento de liberdade, sente um forte desejo de transmitir mais coisas sobre o seu pequeno grande mundo.”  
Texto de L.E.Pomar

23.3.11

Hiper realismo de Maurício Pavão





Parece foto, mas não é!
"BROMÉLIAS” é a série de quadros pintados em acrílico sobre tela.
A técnica é a aerografia (air-brush), a qual vem pintando desde 1980 e
aprimorada em 1983, na Escola de Altos Estudos da Imagem e do Desenho, em Barcelona, Espanha, onde se formou em design gráfico. O artista das obras hiper-realistas acima, Maurício Pavão, é meu primo. Além de excelente pintor, é paisagista e desenvolve projetos inovadores com pranchas de surf. Para saber mais leia aqui

15.1.11

O preço de não escutar a natureza

O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as três cidades serranas do estado do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, na segunda semana de janeiro, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um incomensurável sofrimento dos que perderam familiares, casas e todos os haveres tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam frequentemente deslizamentos fatais.
Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que destribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside a causa principal desta tragédia avassaladora.
A causa principal deriva do modo como costumamos tratar a natureza. Ela é generosa para conosco, pois nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em contrapartida, a consideramos como um objeto qualquer, entregue ao nosso bel-prazer, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação, nem lhe damos alguma retribuição. Ao contrário, tratamo-la com violência, depredamo-la, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos.
Pior ainda: nós não conhecemos sua natureza e sua história. Somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos nossos lugares no percurso de milhares e milhares de anos. Não nos preocupamos em conhecer a flora e a fauna, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas significativas que aí viveram, artistas, poetas, governantes, sábios e construtores.
Somos, em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos e artistas nos evocam em suas magníficas obras. O universo e a natureza possuem história. Ela está sendo contada pelas estrelas, pela terra, pelo afloramento e elevação das montanhas, pelos animais, pelas florestas e pelos rios. Nossa tarefa é saber escutar e interpretar as mensagens que eles nos mandam. Os povos originários sabiam captar cada movimento das nuvens, o sentido dos ventos e sabiam quando vinham ou não trombas d’água. Chico Mendes, com quem participei de longas penetrações na floresta amazônica do Acre, sabia interpretar cada ruído da selva, ler sinais da passagem de onças nas folhas do chão e, com o ouvido colado ao chão, sabia a direção em que ia a manada de perigosos porcos selvagens. Nós desaprendemos tudo isso. Com o recurso das ciências lemos a história inscrita nas camadas de cada ser. Mas esse conhecimento não entrou nos currículos escolares nem se transformou em cultura geral. Antes, virou técnica para dominar a natureza e acumular.
No caso das cidades serranas: é natural que haja chuvas torrenciais no verão. Sempre podem ocorrer desmoronamentos de encostas. Sabemos que já se instalou o aquecimento global que torna os eventos extremos mais frequentes e mais densos. Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam, que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, pelo qual fluem as águas correntes, e outro maior, que dá vazão às grandes águas das chuvas torrenciais. Nesta parte não se pode construir e morar.
Estamos pagando alto preço pelo nosso descaso e pela dizimação da Mata Atlântica que equilibrava o regime das chuvas. O que se impõe agora é escutar a natureza e fazer obras preventivas que respeitem o modo de ser de cada encosta, de cada vale e de cada rio.
Só controlamos a natureza na medida em que lhe obedecemos e soubermos escutar suas mensagens e ler seus sinais. Caso contrário teremos que contar com tragédias fatais evitáveis.

Por Leonardo Boff
Teólogo

7.1.11

Mito de Xangô

Aquarela feita por Caio Bastos, meu enteado de 14 anos, ilustrando São Jerônimo. O santo tradutor da bíblia é sincretizado a Xangô como São João Batista.

Xangô é corisco, raio e trovão. Rei do fogo,  suas cores vermelho e branco simbolizam a polaridade. Rei da vida, da justiça, foi o orixá maior dos escravos, que na fogueira de São João figiam louvar o santo, mas que na verdade era o Deus africano quem era louvado. Daí o sincretismo. Xangô inspirava a justiça para a liberdade do povo negro. Também sincretizado com São Jerônimo, o santo que juntou as palavras do Cristo através dos textos evangélicos e traduziu-as para o grego e latim, elaborando o que seria a nossa bíblia conhecida de hoje. A memória aglutinada para revelar a justiça aos homens foi a missão de São Jerônimo. Abaixo um texto do Gilberto Gil, que junto a outras personalidades como Dorival Cayme, Caribé, entre outros, são ministros de Xangô.

O orixá é uma representação de um ou vários aspectos da vida interior, da alma, da mente ou qual seja o nome que se dê ao imenso fio vibrátil com que se tecem pensamentos no indivíduo humano. O termo vibrátil designa, aqui, a relação necessária da vida mental e sentimental com a vida física. O orixá é uma manifestação da interação corpo e alma. Xangô é, portanto, uma das poses com que minha naturalidade é fotografada pela vida. Quem sabe, até, a principal pose. Mas não sou eu quem capto, é a câmera da vida. É quase com se eu dissesse que eu mesmo não posso ver Xangô em mim. Ele é visto pelos olhos do mundo. Quem vê seu machado bilaminado em minhas mãos é o outro. Quem percebe os detalhes de cada pé e cada mão no dinâmico bailado do alujá da minha vida é o outro. Quem sabe que é Xangô, reunindo ao meu redor as mães dos meus filhos, é o outro. O outro é o tempo, a história, a tal câmera que capta a pose altiva do orixá em mim. Xangô é, portanto, a minha maneira natural de ser, de ser visto. Querer ser dela a chispa, a fagulha, a brasa, a chama, e até a labareda quando seja. Querer que ele seja e que ele seja visto em mim. Xangô é portanto, o meu retrato, minha pintura, minha cantiga, meu tato, meu modo de dizer. Xangô é minha naturalidade. Gilberto Gil

20.10.10

Liev Tolstói

Leão Tolstoi, ou Liev Tolstói. Primeira fotografia colorida na Rússia em 1908.


Liev Tolstói, também conhecido como Léon Tolstói ou Leão Tolstoi ou Leo Tolstoy,Lev Nikoláievich Tolstói (Yasnaya Polyana9 de setembro de 1828 — Astapovo20 de novembro de 1910) é considerado um dos maiores escritores de todos os tempos.
Além de sua fama como escritor, Tolstoi ficou famoso por tornar-se, na velhice, um pacifista, cujos textos e ideias batiam de frente com as igrejas e governos, pregando uma vida simples e em proximidade à natureza.
Junto a Fiódor DostoiévskiGorki e Tchecov, Tolstói foi um dos grandes da literatura russa do século XIX. Suas obras mais famosas são Guerra e Paz, sobre as campanhas de Napoleão na Rússia, e Anna Karenina, onde denuncia o ambiente hipócrita da época e realiza um dos retratos femininos mais profundos e sugestivos da Literatura.
Morreu aos 82 anos, de pneumonia, durante uma fuga de sua casa, buscando viver uma vida simples.
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