7.1.11

Mito de Xangô

Aquarela feita por Caio Bastos, meu enteado de 14 anos, ilustrando São Jerônimo. O santo tradutor da bíblia é sincretizado a Xangô como São João Batista.

Xangô é corisco, raio e trovão. Rei do fogo,  suas cores vermelho e branco simbolizam a polaridade. Rei da vida, da justiça, foi o orixá maior dos escravos, que na fogueira de São João figiam louvar o santo, mas que na verdade era o Deus africano quem era louvado. Daí o sincretismo. Xangô inspirava a justiça para a liberdade do povo negro. Também sincretizado com São Jerônimo, o santo que juntou as palavras do Cristo através dos textos evangélicos e traduziu-as para o grego e latim, elaborando o que seria a nossa bíblia conhecida de hoje. A memória aglutinada para revelar a justiça aos homens foi a missão de São Jerônimo. Abaixo um texto do Gilberto Gil, que junto a outras personalidades como Dorival Cayme, Caribé, entre outros, são ministros de Xangô.

O orixá é uma representação de um ou vários aspectos da vida interior, da alma, da mente ou qual seja o nome que se dê ao imenso fio vibrátil com que se tecem pensamentos no indivíduo humano. O termo vibrátil designa, aqui, a relação necessária da vida mental e sentimental com a vida física. O orixá é uma manifestação da interação corpo e alma. Xangô é, portanto, uma das poses com que minha naturalidade é fotografada pela vida. Quem sabe, até, a principal pose. Mas não sou eu quem capto, é a câmera da vida. É quase com se eu dissesse que eu mesmo não posso ver Xangô em mim. Ele é visto pelos olhos do mundo. Quem vê seu machado bilaminado em minhas mãos é o outro. Quem percebe os detalhes de cada pé e cada mão no dinâmico bailado do alujá da minha vida é o outro. Quem sabe que é Xangô, reunindo ao meu redor as mães dos meus filhos, é o outro. O outro é o tempo, a história, a tal câmera que capta a pose altiva do orixá em mim. Xangô é, portanto, a minha maneira natural de ser, de ser visto. Querer ser dela a chispa, a fagulha, a brasa, a chama, e até a labareda quando seja. Querer que ele seja e que ele seja visto em mim. Xangô é portanto, o meu retrato, minha pintura, minha cantiga, meu tato, meu modo de dizer. Xangô é minha naturalidade. Gilberto Gil

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