28.6.12
O racismo motivou a ilegalidade da maconha
Por Cristiano Medri,
publicado no jornal Folha de Londrina.
A maconha tem sido utilizada medicinalmente e recreativamente por toda a história da humanidade, desde a China antiga até a nobreza inglesa do século 19. Sua proibição é recente e data de menos de cem anos, e, de modo algum, foi baseada em critérios científicos e de saúde pública, tendo sido baseada em preceitos morais, econômicos e racistas, já que, como era uma planta consumida por negros e mexicanos nos EUA, ficava mais fácil segregar estas pessoas através da criminalização de um hábito destes grupos.
Atualmente, importantes autoridades do meio político e científico advogam a favor da regulamentação do consumo. Dentre eles, temos brilhantes neurocientistas brasileiros, como Sidarta Ribeiro, Renato Malcher, Stevens Rehen e João Menezes. Estes pesquisadores afirmam que a maconha é uma droga muito mais segura e menos viciante do que o álcool e o tabaco, que a teoria da “porta de entrada” não passa de um mito que, absolutamente, não corresponde à realidade da maioria esmagadora dos usuários, que a ideia de que a maconha “mata neurônios”, simplesmente, é falsa, e que a utilização de maconha não danifica o cérebro e não causa alterações cognitivas permanentes.
Pelo contrário, estes pesquisadores citam pesquisas que concluíram que os princípios ativos da maconha possuem efeito neuroprotetor, com potencial de utilização no combate de doenças como parkinson, alzheimer e esclerose múltipla. Ainda, estudos recentes demonstraram que a maconha não aumenta a incidência de câncer de pulmão e não compromete a capacidade pulmonar em longo prazo.
Do ponto de vista social, importantes políticos de países que enfrentam problemas graves com a violência gerada pelo tráfico de drogas, como Fernando Henrique Cardoso, César Gaviria, Ernesto Zedillo e Bill Clinton, ex-presidentes do Brasil, Colômbia, México e EUA, respectivamente, além de sociólogos e juristas, concluíram, após muitos estudos, que a guerra ao tráfico e a ilegalidade é muito mais danosa à sociedade do que a droga em si.
Esta guerra perseguiu, estigmatizou, prendeu e matou milhares de pessoas, corrompeu governos e polícia, aumentou a truculência policial, atentou contra as liberdades individuais dos cidadãos, estimulou a militarização do planeta e a invasão de países, gastou bilhões de dólares em armas e violência em detrimento de saúde e educação. Há muito mais pessoas morrendo em decorrência desta guerra, muitas destas, inocentes, do que pessoas morrendo diretamente em decorrência do abuso de substâncias ilícitas.
Basta citar os neurocientistas Sidarta Ribeiro e Renato Malcher, que dizem que é simplesmente impossível morrer de overdose de maconha, enquanto a guerra realizada para coibir o seu consumo e a disputa dentro do tráfico já mataram milhares de pessoas no Brasil.
A maconha possui grande potencial de utilização medicinal, no combate aos efeitos da quimioterapia do câncer, no tratamento da AIDS, parkinson, alzheimer, esclerose múltipla, glaucoma, ansiedade, no combate a tumores malignos, doenças inflamatórias, dentre outras. Ao contrário da maconha, o álcool é uma droga que pode matar por overdose, e nem por isto é ilegal, tendo sido definidas formas responsáveis para o seu consumo.
Por outro lado, do mesmo modo que o álcool, estudos mostraram que a maconha não deve ser consumida por crianças e adolescentes, por afetar o desenvolvimento cerebral nestas faixas etárias, e por pessoas com tendência a surtos psicóticos e esquizofrênicos. Mesmo assim, há uma ampla parcela da sociedade, que inclui médicos, psiquiatras e neurocientistas, que advoga que, não apenas a utilização medicinal, mas também a utilização recreativa, feita por adultos saudáveis e de modo responsável, é segura e deve ser regulamentada.
O mais importante de tudo é desobstruir o debate. A guerra total às drogas foi perdida, nunca o mundo combateu tanto as drogas e nunca elas foram tão consumidas. Quando os efeitos de uma proibição são muito piores do que os efeitos da substância proibida, esta proibição é burra e precisa ser revista.
Um debate sem tabus, sem moralismos e demonizações, baseado em ciência, deve ser realizado a fim de encontrar uma nova maneira de lidar com a maconha, de modo a minimizar seus malefícios, inclusive aqueles relacionados à guerra e ao tráfico, e maximizar seus benefícios.
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