2.9.06

Willian Blake 1757-1827


Com raras exceções, a personalidade complexa de William Blake tornou impossível a compreensão de sua obra pelos contemporâneos. Foram os pré-rafaelitas, no final do século XIX, os primeiros cultores de sua obra. Desde então Blake passou a ser visto como um profeta, primeiro pelos simbolistas e depois pelos surrealistas, que nele admiraram a estranha ligação entre erotismo e misticismo.
Poeta e artista plástico inglês, William Blake nasceu em Londres em 28 de novembro de 1757. Com dez anos começou a estudar desenho. Aprendeu depois, na Royal Academy of Arts, os estilos convencionais de gravura, de que tiraria grande partido. Seus primeiros versos foram publicados em Poetical Sketches (1783; Esboços poéticos).
Entre 1783 e 1803 Blake viveu exclusivamente de seus talentos artísticos. Nos anos seguintes foi subvencionado por vários mecenas, produziu ilustrações para uma biografia de Cowper e criou alguns de seus poemas mais originais. Retornando a Londres em 1803, associou-se a outro artista num negócio de produção de gravuras. Lesado pelo sócio, atravessou um período difícil, mas em 1809 reagiu ao desânimo, realizando uma exposição de suas pinturas e desenhos. A escassa ressonância da exposição decepcionou-o.
O período de 1810-1817 é de relativa obscuridade na vida de Blake, que viveu da venda de cópias de seus livros ilustrados. Em 1825, gravou as ilustrações do Book of Job (Livro de Jó), sua obra artística mais célebre. Chegou a produzir ainda cem aquarelas para a Divina comédia de Dante.
Não é possível dissociar a poesia de Blake de sua obra gráfica e plástica. Uma das singularidades pelas quais se distinguiu foi ter editado suas obras poéticas ilustradas por ele mesmo, pelo processo que denominou illuminated printing (gravura iluminada).
Como artista, Blake é considerado um maneirista, com um estilo de transição entre a dissolução das formas clássicas e o romantismo. Como poeta, é um dos maiores nomes do pré-romantismo inglês. Seus primeiros poemas de importância são os Songs of Innocence (1789; Cantos de inocência), cujos modelos básicos foram as baladas populares e as nursery rhymes (cantigas de ninar) anônimas. Em 1794, os Songs of Innocence foram editados juntamente com os Songs of Experience (1794; Cantos de experiência). Os dois livros, segundo Blake, exprimiriam "estados contrários da alma humana".
Entre as duas coletâneas de Cantos foram escritas obras em prosa e poemas narrativos. The Marriage of Heaven and Hell (1790; O casamento do céu e do inferno), sua mais importante obra em prosa, cujo título deriva dos escritos de Swedenborg, contém a "doutrina dos contrários" de Blake: o bem e o mal, a alma e o corpo. Segundo ele, "sem contrários não há progresso". A obra culmina com um "Song of Liberty" ("Canto de liberdade"), hino de fé nas revoluções, celebradas em The French Revolution (1791; A revolução francesa) e America, a Prophecy (1793; América, uma profecia), poemas narrativos que exaltam a libertação trazida pela revolução francesa e a americana. Outra revolução, a sexual, é defendida em Visions of the Daughters of Albion (1793; Visões das filhas de Albion). Blake acreditava que os prazeres sexuais eram santos e que através deles se atingia uma nova pureza, a da inocência.
Os principais livros posteriores de Blake, como The First Book of Urizen (1794; O primeiro livro de Urizen), foram escritos em imitação do estilo bíblico, formando uma espécie de bíblia negra, que ele denominou "Bible of Hell" (Bíblia do inferno). São revelações estranhas, ao modo de Swedenborg, sobre o tema cósmico da criação, onde o Criador é identificado com um "poder obscuro".
A fase final de Blake é a mais profundamente mística, com poemas épico-proféticos como The Four Zoas (1797; Os quatro Zoas), Milton (1808), The Everlasting Gospel (1818; O evangelho perene), e Jerusalém (1820), complicadas mitologias poéticas em que se anuncia a redenção da humanidade em uma "nova Jerusalém". Nessa fase, dado como louco, Blake ainda escreveu poemas líricos e herméticos como "Auguries of Innocence" ("Augúrios de inocência"), cujos versos iniciais, que de algum modo resumem a simbologia de seu pensamento, se tornaram célebres: "To see a World in a Grain of Sand / and a Heaven in a Wild Flower" ("Ver um mundo num grão de areia / e o céu numa flor silvestre"). William Blake morreu em Londres em 12 de agosto de 1827.
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